A morte da identidade

Alave
1 min readJun 28, 2018

Sobrevivo com um ferimento mortal em meio peito. Caminho entre as sombras daquilo que compõe meu ser.

Minha existência se dá entre as sombras. Minha identidade parcialmente oculta do resto do mundo. Um livro aberto não é capaz de mostrar todas suas páginas ao mesmo tempo.

Aos poucos o ferimento me mata. Aos poucos o tempo liquefeito retira de mim o ar dos pulmões. A decadência do que nunca pode realmente florescer.

Quem feriu o fez por não saber viver com flores de cores diferentes. Tal como a rainha de copas, quis pintar meu ser de outra cor. Não sou uma rosa vermelha.

Não nasci com essa característica.

Não estou no molde.

Cada vez que minha identidade me é negada, o ferimento se alarga. É o deboche, o ódio, a ignorância. Aprofundam o ferimento.

Eu existo dentro do conceito de fracasso de não ser uma rosa vermelha.

Nunca serei.

Existo sendo parte de outrem que não consegue conceber-me além da posse. Que minha identidade fere de forma tão mortal quanto o ferimento que me fez. Um amor incondicional com condições bem firmes. Por isso, deixo o ferimento sangrar.

Existem pessoas que não conseguem ver um arco-íris. Ainda morrerei por conta disso.

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